terça-feira, 12 de janeiro de 2016

Jamelli relembra o Brasileirão de 1995: “Aquele time encantou e marcou a história do Santos”

Jogador, gerente de futebol, executivo e agora técnico. Esse é Paulo Roberto Jamelli Júnior que, aos 41 anos, irá comandar o Independente de Limeira na Série A-2 do Campeonato Paulista. Jamelli começou a carreira como jogador, no famoso “expressinho” do São Paulo. Passou por clubes como Corinthians, Atlético-MG e Zaragoza (Espanha) e até Seleção Brasileira, mas marcou época com a camisa do Santos, onde foi vice-campeão Brasileiro em 1995, naquela polêmica final contra o Botafogo-RJ.
            Em 2007, deixou os gramados para iniciar carreira como gerente de futebol. Exerceu a função no Coritiba-PR, Grêmio Barueri-SP e teve destaque novamente no Santos, quando foi campeão paulista em 2010.
            Nos últimos anos era executivo em uma empresa de marketing esportivo. Como técnico será a sua segunda chance. Em 2012, exerceu a profissão, sem sucesso, no Marcílio Dias-SC. No último final de semana, Jamelli esteve em Itu, onde o Independente de Limeira fez um jogo-treino com o Ituano e concedeu uma entrevista exclusiva ao BLOG DO VALINI. Confira:

Como você encara o desafio de ser técnico neste ano de 2016?
Jamelli: É um grande desafio mesmo essa oportunidade que estou tendo de dirigir uma equipe como o Independente de Limeira, numa Série A-2 do Paulista, que promete ser um dos campeonatos mais disputados dos últimos anos, com grandes equipes. É uma missão boa, estou amparado pela diretoria, os jogadores estão entendendo o que estamos pedindo e estamos fazendo uma boa preparação.

A equipe já venceu o Red Bull e agora derrotou o Ituano, duas equipes da elite do futebol paulista. Isso credencia o Independente como um dos favoritos ao acesso?
Jamelli: Eu acho que temos que acreditar no trabalho. O Ituano, com a estrutura que tem, com os profissionais que possui, com os jogadores que tem, com certeza vai fazer um belo Campeonato Paulista, e a gente conseguir vir aqui, jogar de igual para igual, vencer o jogo, ainda mudando todo o time, isso aí só serve para motivar, ainda mais, nosso trabalho.

O que muda deixar de ser gerente de futebol, função que você exerceu nos últimos anos, para se tornar técnico?
Jamelli: São funções diferentes. Como gerente de futebol você tem outras preocupações, tem que focar um pouco mais na organização, na estrutura e fazer os departamentos funcionarem. A integração entre o campo e a administração são funções completamente diferentes, mas que no meu caso permitem enxergar o outro lado. Às vezes, quando a pessoa para de jogar, só enxerga o lado do ex-jogador, e quando você participa da gestão e gerência, você acaba tomando ciência dos problemas do dia a dia, que talvez um treinador que só fez a função de técnico não sabe e faz com que você entenda melhor, tenha mais paciência, tolerância com algumas coisas, porque já vivenciei o outro lado. Até outro dia eu estava do outro lado da mesa e sei a dificuldade que é.

O fato de você ter sido jogador e gerente de futebol te dá uma bagagem a mais para exercer a função de técnico?
Jamelli: Não vou dizer que é melhor, mas claro que eu tenho mais assuntos no repertório, tenho mais vivência das coisas que acontecem e isso facilita, mas não que isso vá me fazer ser melhor ou pior do que os outros treinadores. Tenho que procurar continuar melhorando, mas como já passei por todas essas etapas, acabo entendendo melhor o procedimento, dá para se colocar no lugar das outras pessoas e isso é muito importante. Então quando se tem algum problema, alguma situação fora do controle, você acaba enxergando melhor e as coisas tendem a acontecer com mais calma.

Em dezembro do ano passado completou 20 anos daquela final histórica entre Santos e Botafogo pelo Campeonato Brasileiro e que você esteve presente. Quais são as recordações que você carrega daquele ano?
Jamelli: As recordações são as melhores possíveis. Aquele time encantou e marcou a história do Santos. Nós éramos todos promessas, todo mundo tentando buscar um espaço, e deu liga, o time deu certo em 95. Naquela época, o Santos estava em baixa, com dificuldades, não conseguia chegar e aquele time mudou, reerguemos o clube, fizemos com que os torcedores do Santos voltassem a ter orgulho de ser santista, de lotar o Pacaembu, lotar a Vila e, até hoje, a gente conversa, seja com jogadores que jogaram juntos ou contra, sempre relembramos aquele time, que foi uma pena não ter sido campeão de fato, mas ao menos na cabeça do torcedor santista e na nossa foi campeão, e a gente sente muita saudade. Parece que foi ontem, mas já faz 20 anos, não tem noção de como são rápidas as coisas que acontecem na vida da gente.

Qual foi o jogo que marcou a equipe do Santos naquele Brasileiro?
Jamelli: Teve um jogo contra o Guarani, que era o último da fase de classificação (dia 3/12/1995 – Santos 2 X 0 Guarani), que o Guarani já não jogava nada, time em férias e a gente brigando pela classificação, ponto a ponto, com o Atlético-MG e, em determinado momento já sabíamos que o Atlético tinha vencido o jogo deles e nós empatando com o Guarani em 0 a 0 e esse resultado tirava a gente do campeonato. E foi uma das poucas vezes que fiquei muito nervoso dentro de campo, pois estava escapando da nossa mão a vaga, e já chegava os 35 minutos do segundo tempo, não conseguíamos fazer o gol, até que o Marcelo Passos, após um passe meu, numa jogada genial, fez o gol, depois ainda o Giovanni fez o segundo gol e conseguimos a classificação. Esse jogo me marcou muito.

O que mudou no futebol nesses últimos 20 anos?
Jamelli: Muita coisa mudou. Hoje o jogo é muito mais estudado, mais científico do que era naquela época. Na década de 90 era mais talento, os jogadores resolviam mais dentro do campo, hoje ficou mais tático, mais estudado, tem profissionais cada vez mais inteligentes, cada vez mais preparados para ou construir o time ou destruir o que o outro está fazendo e antes era mais na observação. Hoje você tem toda parte cientifica de preparação física, você tem toda parte de filmagem, de desempenho, você consegue mapear quantas vezes o jogador bateu na bola, que lugar o cara bateu na bola, como ele bateu na bola e antes era mais no visual, no feeling do treinador. E fora que o mundo mudou. A informação está cada vez melhor. Você entra na internet e vê como o Bayern de Munique treina, como o Barcelona treina, a informação está muito mais acessível, mais fácil e temos que andar junto, senão fica para trás.

Quem foi o melhor treinador com quem você trabalhou?
Jamelli: Essa pergunta é complicada, mas se tivesse que escolher um seria o Telê Santana. Pois foi uma fase da minha carreira, que foi dos 16 até os 19 anos, que ele me ajudou, aprendi muito do que é o futebol fora das quatro linhas com ele. Um cara que se preocupava com o gramado, arte com o quero-quero que ficava no campo, se o cara estava sujo, se tinha feito a barba, se o vestiário estava limpo, enfim, era uma pessoa perfeccionista, exigente e por isso foi o que foi e ganhou tudo o que ganhou.


Jamelli (agachado ao centro) com o Santos de 1995

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